A tradição da educação clássica reconhece que, embora a realidade esteja em constante transformação dado o caráter de geração e corrupção, começo e fim das coisas, existem estruturas permanentes que estão por trás da possibilidade de mudanças e que dão sentido a elas próprias. Assim percebemos a mudança das estações durante épocas específicas do ano, também podemos perceber uma ordem cíclica que comanda o movimento dos astros e mantém o equilíbrio da natureza. Esses princípios que figuram ao fundo são as estruturas permanentes, os fundamentos do real, que conferem estabilidade àquilo que morre e nasce, que se destrói e se renova, dias após dia. Essa perspectiva evita as armadilhas de um rígido essencialismo, tanto quanto de um materialismo desordenadamente relativista, compreendendo que a mudança e a perenidade fazem parte de uma mesma estrutura, e talvez, somente de graus diferentes.
Considerar isso é um caminho do método clássico. Orientar o aluno a desenvolver habilidades práticas em conjunto com potências intelectivas aguçadas, mescla analogicamente aquilo que é essencial com aquilo que é passageiro, mas também une-os, mostrando que aquilo que é corruptível e sofre transformações, feito a prática que logo acaba, são consequências de estruturas inamovíveis do intelecto. É o pensamento prudente guiando a ação prudente. Esse caráter metodológico enfatiza, naturalmente, o inverso da absorção de informações de maneira massiva como condição de inteligência, mas concebe como inteligente àquele que estabelece boas conexões entre o que sabe e o que vê, entre o que é como age, entre o que passa e o que é eterno. E por ser eterno é essencialmente harmônico e unitário, desprovido de fragmentos alienados, somente partes harmônicas que cooperam para a realização do ser.
Tal como uma orquestra, onde vários músicos em posições diferentes, tocando instrumentos diferentes, com dinâmicas e técnicas diferentes, conseguem estabelecer uma harmonia em uma peça completa pela observação de uma estrutura comum que subjaz a linguagem musical – a partitura -, a alma humana necessita de uma variedade de saberes para desenvolver-se bem, mas também necessita de articulá-los de maneira harmônica tendo em vista a essência que coordena o pensamento. Combinando então, na educação clássica, as artes retóricas, elementos dialéticos e lógicos, teoria, prática e reflexão crítica, a formação de um caráter íntegro e uma mente preparada é uma possibilidade, certamente, mais factível.
A educação assumida como essa arte, esse instrumento, que torna possível a formação de uma pessoa na sua integralidade, deve ser, necessariamente, um caminho que une aspectos aparentemente opostos em uma visão coerente e equilibrada, teoria e prática, fragmentos alheios em unidade. Essa deve ser a característica de uma verdadeira educação, e o método clássico nos dá ferramentas mais agudas para alcançá-las.